Era de noite. Estivemos juntos.Desci a rua para ir ter contigo. Voei, não te queria deixar à espera. Jantámos e fui para casa. Vesti o pijama, sentei-me no sofá e esperei por ti. Chegaste não muito tempo depois. Durante tanto tempo estivemos na dúvida se o queríamos. Não.Não era sobre querer.Disso, os dois, tínhamos a certeza. A dúvida era a mesma de sempre: será que devíamos? Porque é que o fazíamos? Porque é que se tornava inevitável? O que é que nos unia daquela forma, que anteriormente ambos rejeitámos? No meio de tantas hesitações, de mil perguntas e nenhuma resposta,voltámos a juntar-nos, mais efemeramente que nunca, com uma única ideia na cabeça: aquela dança, aquele café, aquela paragem no tempo durante umas horas, não poderia, nunca mais, voltar a ser dançada, a ser bebido, nem mesmo a parar de novo. Ambos sabíamos que aquele café seria o último que beberíamos juntos. Sabíamos que aquela seria a última vez,que juntos, caminhariamos até ao cimo daquela montanha, onde no topo o tempo parava para nós. Onde juntos nos uniamos, recusando qualquer união entre nós. Onde juntos floríamos. Depressa chegou a hora de partir, e na escada da montanha olhámo-nos nos olhos e percebi, pela primeira vez, que aquele adeus também te doia. sempre quiseste que pensasse o contrário. Naquela noite percebi que também o sentias. Como pararia o tempo de novo? Quem nos encheria o peito? Quem nos faria explodir de alegria? Esse lugar, esse só nosso lugar, era a partir de hoje, apenas um lugar de memória. Não sei se tua. Mas minha tenho a certeza. Por isso quis escrever isto. Este será o meu lugar de memória de nós. Será o lugar onde todos os dias regressarei para me lembrar desse momento ao pôr-do-sol no cimo da montanha, onde os dois construimos algo que sabiamos não poder ser construido nunca mais. Abracei-te e tu a mim. Beijámo-nos como antes tinhamos dito que não podiamos faszer. Afinal não éramos nada, não fazia sentid. Mas nessa noite isso não importava. Sabiamos que seria a última vez que sentiriamos os lábios um do outro, sabiamos que aquela despedida que tardámos em aceitar, seria pela primeira vez verdadeira. Naquela noite, em muito tempo,senti-te no fundo. E como vou ter saudades, Su. Talvez um dia nos arrependamos de ter descido a montanha e cada um ter seguido caminhos que se distanciaram. Talvez nesse dia seja demasiado longe para voltarmos. Talvez até já tenhamos esquecido o caminho de volta.